segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Um Epílogo de Batalha


Niguém era capaz de compreender aquele coração torturado. O Guerreiro, exausto, não era capaz de entender tudo o que fizera. Seus erros pesavam em seu peito, assim como a espada banhada pelo sangue de seus adversários pesava em suas mãos. Não era possível imaginar que se sentiria assim. ele havia vencido, era um herói. Tudo havia terminado. Ao menos, não haveria mais guerras, seus amigos não mais morreriam.

Era isso que se passava na mente de todos quando vieram parabenizá-los. Gritos de euforia em relação a sua destreza, não deixavam a sua mente pensar corretamente. Algo estava errado, algo estava muito errado e ele não conseguia distinguir o que era. Por mais que a vitória era tudo o que sempre sonhara, não era tão gloriosa quanto imaginava. A dor, o cansaço e a confusão finalmente o venceram. E o guerreiro, caiu, e sua mão segurava algo que não sabia o que era.

Acordou em um campo verde. No cume de um monte cercado por um mar. Uma ilha que nunca virá, mas que, estranhamente lhe parecia familiar. O sol ardia forte no céu, o cheiro de sangue, a que tanto se acostumara nesses últimos meses, havia sido substituído pelo doce odor da Dama da Noite. Mas estranho, ela não deveria estar florecendo em pleno dia.

- Aqui a noite nunca cai, e por isso a Dama da Noite floresce quando acha que está na hora.

Era uma voz doce, suave e tranquila que lhe falara. Olhou em volta procurando, não sabia se assustava-se com aquela voz que fora capaz de ouvir os seus pensamentos, ou se com o fato de que não sentia mais dor em seu corpo. A busca finalmente parou, em uma grande pedra, a pouco mais de 50m deles estava sentada uma senhora. Usando um longo vestido azul e branco, ela olhava para o mar, enquanto costurava alguma coisa. Calmamente ele se levantou, e dirigiu-se até aquela senhora. Foir mais fácil do qeu imaginava.

- Estou morto?, foi tudo o que conseguiu perguntar diante da face serena daquela mulher.

- Se perguntas de teu corpo, a resposta será não, ele ainda repousa na casa do xamã que cuida de teus ferimentos. Se perguntas de tua alma, aí eu não terei a resposta para essa pergunta. Pois só tu consegues entender o que se passa em teu coração.

- Onde estou?, pergunto o Guerreiro, ainda curioso e assustado.

A senhora parou de costurar, colocou o pequeno tecido e sua armação de palha de lado, em cima de uma mesa natural na pedra, espreguiçou-se, levantou-se e estendeu a mão ao Guerreiro.

- Isso é um sonho, isso é o teu sonho. O teu desejo de liberdade e de calmaria. Segure a minha mão, Jovem Guerreiro, e venha comigo. Há muito a se dizer, a se perguntar e a se ouvir. A tua alma, por mais que não tenha os ferimentos do teu corpo, precisa de cuidados, e de alimentos. Por favor me acompanhe.